
Nós vivemos numa época em que se tornou comum a exposição excessiva do corpo feminino, desde um simples comercial de chinelo até o último lançamento de um carro, da novela das 8 até a revista da moda. Estamos tão acostumados a vermos corpos desnudos e erotização na mídia que fenômenos como das “mulheres frutas” (melancia, jaca, morango, etc) tornaram-se banais e já não causam mais espanto e estranhamento nas pessoas.
Apesar disso, não podemos deixar de levar em consideração que estas mulheres (que apareceram em poses sexys, dançando sensualmente em vários programas e se tornaram alvo recente de olhares de uma boa parcela de homens sedentos dos seus fartos pedaços) ao serem transformadas em mulheres frutas, foram lhes atribuídos novos valores.
A construção de sentido valeu-se primeiramente do jogo de palavras, no caso, ocorreu uma apropriação do significado original (fruta: substância comestível, nutritiva) atribuído por comparação a outro termo (mulher: ser humano do sexo feminino), construindo um novo significado (mulher fruta: mulher gostosa, deliciosa). E depois, a valorização em demasia dos atributos físicos destas mulheres.
No entanto, esta enfatização não foi feita, com o intuito de sublimá-los, mas para descrever um movimento exatamente o contrário, o efeito de rebaixamento. A ênfase em seus “atributos” tem o objetivo de coisificá-las até elas perderem as suas identidades, tornando-as apenas pedaços de carne, ou melhor, de frutas.
Embora o desejo secreto de fazer uma verdadeira salada com estas frutas não esteja ao alcance da maioria dos homens, será que as mulheres devem continuar se sujeitando a este tipo de papel? Será que nós teremos de nos acostumar com a exposição gratuita destas e de outras frutas da quitanda na TV, revistas e outras mídias? E pior, será que teremos de nos acostumar com uma porção de homens bananas, abacaxis e limões que não fazem outra coisa a não ser olhar as frutas nos quintais alheios?
Dolly