Minha
mãe sempre dizia que para um bolo dar certo, era preciso seguir alguns passos:
1.
Atenção e bom senso para selecionar todos os ingredientes;
2.
Saber a medida certa de cada um dos ingredientes;
3.
Muito cuidado na hora de misturar todos os ingredientes;
4.
Paciência e também intuição para perceber o momento preciso em que o bolo
estiver pronto.
Anotei
todas as recomendações sugeridas por minha mãe. Em seguida, levei tudo anotado
para a casa de meu namorado, pois tinha combinado de levar a receita para
fazermos juntos o bolo. Comentei a receita e notei seu olhar desconfiado, como
se a dúvida estivesse estampada na ponta do nariz. Xi!! Será que não
fui bem clara? Ou será que ele não gostou da receita?
Ele
foi o primeiro a se manifestar, disse que preferia bolo de laranja, cenoura nem
pensar. “O produto mudava, mas a forma continuava a mesma, que tal assim?” perguntou.
Ao invés de falar, calei bem quieta e pensei comigo: “O bolo é de cenoura,
rapadura que não dá!”
Depois
de conferir os ingredientes, eu disse que não tinha laranja,
era cenoura ou nada. Ficamos quietos pensativos, então, ele aproveitou e
soltou: “Já percebeu que você sempre quer que seja do seu jeito?” Eu olhei para
ele e discordei perplexa. Começamos a falar ao mesmo tempo. Ninguém mais se
ouvia. Ninguém se entendia. Ele pediu silêncio e olhou com
interrogação para mim: “E então, o que vamos fazer?” esperando uma resposta
salvadora.
O
tempo corria e na confusão não nos decidíamos. Após a longa discussão,
resolvemos fazer outra receita (ele a contragosto concordou). Colocamos todas
as ideias na panela, misturamos todas elas. Mas será que as ideias iam
combinar? E será que elas iam conseguir misturar sem brigar?
Na
pressa de fazer o bolo, não tivemos muito tempo para verificar se a receita não
era boa o suficiente para ser descartada ou se a outra não estava ainda no
ponto de madurar.
Tiramos
o bolo na correia com medo dele queimar. Ao sair do forno saiu timidamente,
quase sem fazer barulho, bemmmmmmmurchinhoooooooooo. Quando vimos o bolo
percebemos que ele estava cru por dentro e com um gosto meio...hum...sei lá...
Fiquei
triste e pensei o que será que fizemos de errado, para um bolo que parecia tão
gostoso dessa maneira murchar? Esquecemo-nos de alguma coisa? Ou será que
tiramos antes da hora? Talvez tenha faltado o fermento da empolgação? Ou quem
sabe, uma xícara a mais de decisão? Será a pitada da confiança para dar aquele
gostinho bom?
Pensei,
pensei e pensei... e será que ele realmente queria essa receita? E se eu o
tivesse ouvido melhor? E se tivesse optado por aquele outro jeito de cozinhar?
As
dúvidas continuaram e mais uma vez lembrei que minha mãe havia se esquecido de
dizer que talvez aquela fosse a melhor maneira de fazer o bolo SOZINHA. No
entanto, eu não estava SOZINHA! Fazer o bolo com alguém não é tão fácil quanto
parece à primeira vista, tem sempre um que prefere morango ao invés de
chocolate!
Mas
também sozinha você não percebe com muita clareza onde errou ou acertou. Quando
você faz o bolo com outra pessoa, embora nem sempre acerte a receita, você
aprende outras maneiras de se fazer um bolo.
Eu
me pergunto, será que existe uma maneira certa de fazê-lo? Como conciliar as
diferenças entre o casal e conseguir fazer o bolo juntos? Em que momento,
devemos ceder ao apelo do outro? E em que momento, devemos insistir na nossa
receita?
Um
abraço
Dolly